segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

EDUCADOR? EIS A QUESTÃO.

Ednaldo Rodrigues

Muitos professores de música, professos e estudantes na área, podem pecar por acreditar que a sala de aula regular é uma bolha que está isolada de seu entorno, e que a execução dos planos de aula acontecerá, sempre, da maneira idealizada, baseados em parâmetros comparativos com alguma experiência anterior que tenham vivenciado em outra unidade de ensino, desconsiderando as possíveis interferências externas e internas que podem incidir sobre esta execução. Neste sentido, um fato que é pertinente observar é que cada comunidade escolar responde e age de acordo com a comunidade local, a qual está inserida. Logo, devemos levar as experiências vivenciadas para onde formos, mas não devemos ir, ao novo, carregados de pré-conceitos.

É coerente afirmar a existência de uma diversidade relevante no que tange à realidade que encontramos nas diferentes Unidades de Ensino espalhadas por Salvador. E, no que diz respeito à realidade, uma questão que deve ser levada em conta são os desvios comportamentais em alunos, os quais - desvios - encontraremos em qualquer lugar, é obvio, mas as formas de lidar com os mesmos vão mudar de U.E. para U.E., de gestor para gestor, de regente de classe para regente de classe, de professor de música para professor de música, de classe para classe, de aluno para aluno, em maior ou menor grau e dependendo, impreterivelmente, do contexto, gerando impactos significativos nos planos de aula e no tempo necessário para alcançar determinada habilidade por aluno. Fato é que este é um tema com o qual temos de lidar diariamente nas aulas e precisamos, enquanto educadores musicais, saber contornar esta questão e tirar o melhor proveito possível de nossas aulas, mesmo quando não parece possível.

Vamos ser realistas, além das diferenças de faixa etária e ciclo em que leciona-se, cada turma, cada aluno, tem um tempo diferente de aprendizado, e por nossas salas vão passar alunos que não conseguirão, por exemplo, cantar uma nota afinada, se quer, ou recusar-se-ão a participar da(s) aula(s) ou, até mesmo, ficarão correndo de um lado para o outro durante toda a aula, salvas exceções e contextos. Não acredito que o nosso papel, enquanto educadores no ensino regular, seja impor conteúdos à cabeça dos educandos, ou exigir que ele cante um lá “440”, mas, na qualidade de educador, enxergar o educando enquanto ser humano que tem necessidades e buscar formas de atingi-lo através dos sons, preparando-o para, acima de tudo, ser um indivíduo melhor para a sua comunidade e, consequentemente, para a sociedade.

Me perguntaram um dia desses “o que é musicalizar”, e eu respondi que para mim significa “apropriar o educando do contexto musical”. Parece abstrato? Mas o que significa isso para você? Tenho razões para acreditar que apropriar um indivíduo do contexto musical é muito mais do que mostrar palavras em um quadro, é mais do que reconhecer e decodificar símbolos, é vivenciar o contexto musical enriquecido de seus elementos, e nem precisa ser de maneira consciente, apenas vivenciado.

Todavia, cada professor cria suas estratégias baseado em suas experiências idiossincráticas. Encontraremos quem desenvolva, por exemplo, aulas de música com Mozart do grupo zero ao 3º ano do nível médio, ou quem passará por todos estes sem se quer falar o nome das notas musicais. Existe uma regra a ser seguida? Qual a relevância dos estudos feitos por tantos pesquisadores e doutores em educação musical? Como e o quanto isto deve influenciar o meu plano de aula? A verdade é que não há um consenso sobre este ou aquele método ou educador, e sempre encontraremos questões que discordaremos em um ou outro. Então, ajuste, adapte, crie, faça a aula de música acontecer, e mais importante: faça a aula de música ser marcante, prazerosa. Como você quer ser lembrado? Como aquele professor chato que obrigava cantar a mínima no tempo certo, ou como aquele professor que trouxe um novo olhar para algo que antes “eu” não havia notado no mundo da música? Sem querer dar margem a esta profunda discussão, mas você pode ser um professor que faz uma mínima ficar divertida.

Os estudantes de licenciatura em música que se dão à oportunidade de vivenciar este contexto levarão para sua formação uma visão mais crítica e ampliada a respeito da relevância do ensino de música para o ensino regular a partir de sua convivência com a comunidade escolar e, consequentemente, com seus respectivos supervisores, os quais não são donos do saber ou da verdade, podem não ter a melhor pronuncia do inglês, francês, ou de qualquer outro idioma, mesmo o português, pode não ser o “melhor professor” ou ter os “melhores planos de aula”, na opinião de alguns, ou muitos, mas tem imenso potencial de contribuição baseado em sua experiência de vida e na convivência com os desafios diários de uma sala de aula. Isto deve ser observado. As estratégias criadas por cada um, na comunidade em que está inserido, o processo de adaptação, as conquistas alcançadas no espaço e comunidade escolar. O licenciando tem a oportunidade de questionar, experimentar, contribuir, pois que melhor lugar haveria para favorecer trocas do saber? Mas, para isto, temos que estar focados em um objetivo comum, não permitindo que outras questões nos desviem do caminho, não achando que somos melhores do que o outro, ou ficarmos procurando defeitos, mas devemos estar buscando contribuir, sempre, da melhor forma possível, favorecendo o crescimento mútuo, em todos os níveis.

Deve-se lembrar, também, que as aulas de músicas precisam trazer ludicidade. Você vai errar, vai acertar, não importa. Tem é que continuar tentando, experimentando. Haverão turmas em que você irá sentir vontade de desistir, de jogar tudo para o alto, de mudar de profissão, mas renove suas forças, se este for o caminho que você deseja seguir, e faça a sua parte, não como um mero professor, mas enquanto educador, e, para alguém, em algum momento, você fará a diferença.

Entre os trabalhos que já foram desenvolvidos na Escola Municipal Xavier Marques, estão os projetos de flauta doce, coral infanto-juvenil e o festival de música, além das aulas regulares “de todo dia”, baseados em uma proposta curricular elaborada na Rede Municipal de Salvador, os Marcos de Aprendizagem em Música, trata-se de um documento com proposta curricular em música, feito com o objetivo de orientar os docentes especialistas em música na rede municipal (na verdade foi elaborado pelos professores de artes e inglês).

O Coral Juvenil Xavier Marques foi o primeiro dos três que nasceu na escola, desde 2007, e vem promovendo a educação musical através do canto coletivo e ludicidade. Os ensaios acontecem em turno oposto e este coral já realizou algumas apresentações em eventos tais como na mostra pedagógica da Prefeitura Municipal de Salvador, em Seminário Interno do PIBID, na UFBa, em bibliotecas do bairro, eventos escolares internos e externos, entre outros. Neste ponto, é pertinente a observação que com a estrutura municipal, onde a U.E. está inserida nas comunidades, as crianças pouco saem de seus bairros, e têm suas escolas como mais um elemento para interação entre eles, que já convivem na comunidade. Os momentos de apresentação e saídas são únicos e fazem brilhar cada olhar com a possibilidade de desbravar outros espaços. A escolha do repertório está também intrinsecamente relacionada com a comunidade. E o processo de aceitação do repertório levado pelo professor leva um tempo e está relacionado, também, com a convivência, confiança conquistada e acordos firmados - onde também entra a questão sobre o domínio sobre os desvios comportamentais.

O Festival de Música, concebido desde o ano de 2008, nasceu com a proposta de promover interação multidisciplinar, na qual toda a comunidade escolar estaria envolvida no processo e execução. Seja na categoria COMPOSITORES MIRINS, cuja produção de texto seria feita em parceria com a professora regente da classe, professor de música e alunos, ou na categoria INTERPRETANDO SUCESSOS, onde, na proximidade do festival, um horário da aula seria destinado para ensaio com a professora da turma, todos os dias se possível, para turmas do 3º, 4 º e 5º ano, e o mesmo para a categoria ESPECIAL, nas turmas do 1º e 2º ano, que podem participar cantando ou coreografando.

Para participar do festival o(s) aluno(s) se inscreve(m), e participa(m) de uma “prévia” nas aulas de música da qual sai, pelo menos, um ou dois representantes da turma para concorrer, de acordo com o regimento do festival. A partir daí os ensaios acontecem com o objetivo de melhor preparar as apresentações que serão julgadas e avaliadas por pelo menos três convidados especiais que desempenham a função de jurados. Os DESTAQUES recebem um certificado especial e uma premiação, quando possível, angariada com doações.

O projeto de flauta doce, conquistado com muito esforço, aconteceram em turno oposto, assim como o coral, e só foi concebido no ano de 2012. Após a aquisição de 35 flautas doce soprano. O aluno pode optar por se inscrever em um dos projetos, ou todos.

Este artigo foi utilizado no 3º Seminário Interno do PIBID Música - UFBA, no ano de 2012.




Infelizmente, no ano de 2013, a prefeitura mudou a matriz curricular e obrigou o professor de música desta unidade de ensino a dividir a carga horária entre a Xavier Marques e a Municipal Fazenda Grande, ficando este na Municipal Xavier Marques apenas UM dia na semana, criando um clima desagradável entre a comunidade escolar e o professor supracitado além de IMPEDIR POR ORDEM EXPRESSA a continuação da prática musical (outrora projetos pedagógicos) no turno oposto dos alunos, em todas as escolas da rede municipal de ensino. Com a pura e clara intenção de utilizar-se destes professores para tapar buracos da nova matriz proposta. Quando questionados o que faria-se do investimento da verba pública que foi feita para a realização destes, a resposta foi: "guarda no depósito"! Lastimável. A APLB tentou comprar a briga e conseguiu adiar parcialmente a implantação da matriz, o conselho escolar escreveu um ofício, na tentativa de reverter a situação, mas nenhuma resposta, se quer, houve, e o estrago já havia sido feito.

Em 2014, a secretaria de educação do município (que passou o ano de 2013, inteirinho, replanejando seus propósitos, a fim de não deixar as brechas que haviam deixado na proposta de matriz adiada) alterou mais uma vez a matriz curricular, desta vez aumentando a carga horária por turma no ensino fundamental 1, em cujo currículo encontram-se como "disciplinas diversificadas": Artes (na qual obrigam apenas uma linguagem por escola), língua estrangeira e educação física. Desta vez mas escancarada a proposta (matemática) de colocar estes professores de "disciplinas diversificadas" no que seria a "reserva de carga horária" dos pedagogos. Ou seja, a reserva de CH dos pedagogos está sob a responsabilidade destes professores. Vislumbrando os problemas desta proposta, e para citar apenas um, questionei ao subsecretário o que aconteceria se este professor não pudesse comparecer (claro que seria exceção e não regra), mas a resposta surpreendeu: "a turma seria liberada". Bom, pensando em uma turma de 5º ano, talvez de 4º ano, mas e uma turma de 1º ano? Eles seriam liberados para onde? Para o pátio? Como os pais iriam saber a hora de buscar o aluno? Quem cuidaria destes alunos, enquanto os pais não fossem buscar? Fui para uma exceção, porque não tenho como objetivo aprofundar este tema aqui, mas existem questões de ordem matemática, pedagógica e isonômica, para citar apenas três, que colocam em xeque esta proposta e questionam sua funcionalidade em nossa rede. O ano de 2015 será mais difícil. Atualização do plano de carreira (mal feito), aprovado este ano. Espero, em 2015, poder retomar os trabalhos desenvolvidos/conquistados com a disciplina de música dos anos anteriores, sem a interferência maléfica da secretaria de educação.

Habilidades

A partir daí começou a labuta para organizar as habilidades, como usar os verbos que níveis cognitivos gostaríamos de alcançar em cada habilidade.


Foi quando encontramos os estudos de Benjamin Bloom. Onde nós utilizamos apenas os níveis de conhecimento cognitivo.

Eis os níveis e alguns exemplos dos verbos:


Domínio 1: CONHECIMENTO
apontar - definir - enunciar
inscrever - marcar - nomear - recortar
registrar - relacionar - relatar


Domínio 2 - COMPREENSÃO
descrever - discutir - explicar - expressar
identificar - localizar - narrar - reafirmar
revisar - traduzir - transcrever


Domínio 3:  APLICAÇÃO
aplicar - demonstrar - dramatizar - empregar
esboçar - ilustrar - interferir -inventariar
operar - praticar - traçar


Domínio 4: ANÁLISE
analisar - averiguar - calcular -  categorizar
comparar - contrastar - criticar - debater
diferenciar - distinguir - examinar - experimentar
investigar - provar - verificar


Domínio 5: SÍNTESE
compor - conjugar - coordenar - criar
erigir - esquematizar - formular - organizar
planejar - prestar - propor


Domínio 6: AVALIAÇÃO
avaliar - escolher - estimar - julgar
medir - selecionar - taxar - validar - valorizar

E, baseados nesta teoria e toda esta fundamentação desenvolvemos as habilidades.

Acredito que seria melhor a visualização dos eixos paralelamente. Para que as habilidades possam estar relacionadas entre os eixos.

Claro que a secretaria de educação, embora tenha cedido a oportunidade para esta construção, fez algumas alterações a revelia da comissão e dos demais professores.

O documento foi concebido com toda a preocupação de como este seria apresentado nas escolas e, consequentemente, utilizado.

Ele foi criado para servir de parâmetro para os professores de artes nortearem o seu trabalho, podendo utilizar-se de uma, várias ou acrescentar sugestões ao mesmo.


Acesse o esboço proposto por mim como plano de curso para o 1º ao 5º ano, a partir dos marcos de aprendizagem supracitados: